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Uma clássica canção


Constantemente passava por aquele corredor, mas nunca tinha notado o som que sempre ali estava. Entretanto, naquele dia foi diferente. Notei o som diferenciado, com melodias suaves e harmoniosas.

Talvez nunca tivesse ouvido devido a falta de percepção ou total ausência de tranquilidade em meu pensamento. Normalmente estamos tão atribulados em nosso cotidiano que nem percebemos o belo que está ao nosso redor, mas a partir daquele momento tudo mudou.

O corredor ampliou de uma hora para outra. Parecia um sonho, ou será que era mesmo? A música, apesar de distante, manteve sempre o mesmo volume. Sem nenhum erro, consegui perceber que era uma música erudita, muito complexa por seus acidentes e velocidade.

Primeiramente, apenas um instrumento tocava aquela canção, mas ao andar mais pelo corredor, ficava nítido que um piano estava acompanhando esse instrumento, que ainda não conseguira identificá-lo, pois em seu som, aparentava ser filarmônico.

Quanto mais eu caminhava, mais longe parecia estar a sala onde projetava a música. Não podia aumentar os passos ou caminhar mais depressa, pois o corredor aumentava cada vez mais.

Caminhando e ouvindo aquela canção, comecei a sentir a música. O som do outro instrumento, que primeiramente não conseguira identificar, era de uma flauta. Místico. Porque eu também toco flauta. Apenas uma semelhança ou um significado maior?

Comecei a ficar apreensivo, e por isso, a música começou a sofrer alterações. Ficou agressiva, parecia não querer mais ser tocada. Lembrei-me de sonatas do Impressionismo, em que o autor optava por fazer o ouvinte sentir angústia ao ouvir sua música, pois o importante não era o público em si, mas a reação que ele teria após a execução musical.

Com isso, voltei a correr, e novamente os dois mudaram de música. Iniciaram a canção “Eine Kleine Natchmusik”, de Mozart. A sonata passou a acompanhar meu passo, quanto mais acelerava, o trecho da canção seguia e ao cansar, a mesma se esgotava em seus intervalos.

Estranho. Comecei a perceber que as músicas ali tocadas seguiam meu sentimento. Tanto de alegria, como de tristeza e ansiedade.

A música agora tocada era a “The Nutcracker, Op. 71: Overture”, e meu sentimento ficou bem expresso nela. A minha felicidade era tanta, que a canção se animou e o corredor diminuiu. Porque será que isso está ocorrendo comigo? Eu devo estar mesmo sonhando. Qual o sentido de tudo isso? Nenhum, claro...

De repente tudo mudou. As canções passaram a lembrar de livros passados que já tinha lido. O culpado de tudo isso foi Tchaikovsky. Com a introdução de “The Sleeping Beauty”.

Recordei-me do Romantismo, período em que todos os personagens são idealizados, principalmente o herói e a dama. Tudo parecia estar mais claro. Será que o flautista e a pianista fechavam esse ciclo?

Mas para que isso ocorresse os dois teriam muitos obstáculos para enfrentar e essa motivação era muito explorada na canção que agora tocavam. Era a “Badinerie” de Bach, onde a flauta precisava enfrentar muitos acidentes e staccato para fluir o som perfeitamente. Contudo, ao vencê-la, me aproximo cada vez mais da sala.

Passa a ser tocada “Canon In D” de Pachelbel. Uma das minhas preferidas. Incrível como as músicas que foram tocadas mexeram com meu coração. Parecia terem me libertado. Bastava somente o último momento, abrir a porta e ver quem estava tocando.

Ao abrir a porta, vi duas pessoas, sentimentalmente, muito boas de coração e alma para mim. Fiquei lisonjeado por poder sentar em uma de suas cadeiras, ouvi-las e assisti-las tocando.

Como disse Victor Hugo: “A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio.”.


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